Não se iluda. Se você não é famoso, não é parente ou cônjuge de alguém importante, não é rico pra chuchu, terá abissais dificuldades para publicar seu livro. Se for algo que você quer muito, e para tal não medirá esforços, meu conselho é que procure um agente literário. O trabalho dele, entre outros, será batalhar editoras pra você. Mas não fica barato. Não é nenhuma exorbitância, mas pagar um valor mensal (o último que eu soube era de 350 reais) sem que nem assim haja garantia de que seu livro saia... Bom, pra mim não vale a pena. Cada um, cada um. E tem outra coisa. Venda de livro não dá dinheiro pra o autor. Sim, o Paulo Coelho ficou milionário, mas ele é aquela honrosíssima exceção que confirma a regra. O que se paga pro sujeito que ralou a mufa pra fazer o livro fica entre 8 e 10 por cento do preço de capa. Num país como o nosso, em que muuuitos acham que pagar 15 reais por um DVD legítimo é um roubo, tente adivinhar quanto vende um autor nacional e desconhecido. Sim, merrmão, o fato de ser autor nacional pesa, e não no bom sentido. Eu mesma recebi um e-mail de uma leitora, elogiando meu livro -- lógico! --, no qual ela dizia: "Vou ser franca com você. Se eu soubesse, antes de comprar, que você era brasileira, não teria comprado". Que sorte a minha ter sobrenome importado!
Não quero desiludir ninguém. Escrever é um verdadeiro tesão. Mas se você pretende ficar rico com isso, terá de contar com uma estrela do tamanho da do... Paulo Coelho. Não basta ser talentoso e ter ótimas idéias, de jeito nenhum.
Por isso eu adoraria ser ghost writer. Isso sim pode ser uma boa pedida. Assim, se vc conhecer alguém que tenha grana e muita vontade de escrever um livro, indique-o pra mim. O trabalho do ghost é justamente esse: fazer o texto de quem não é bom nisso, mas tem bala na agulha até, muitas vezes, pra bancar uma publicação inteira. Ou mais. Para se ter uma idéia, uma vez trabalhei na preparação de um livro em que o ghost ganhou 60 mil reais; e isso já faz alguns anos.
Bom, é isso. Um dia algum figurão ainda me procura, doido pra ter um livro muito bem escrito publicado por uma editora que o agarrará a laço, e eu ganharei uma baba. Não tô nem aí que o meu nome não aparecerá. Escrever é um trabalho como outro qualquer, embora não seja pra qualquer um.
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
"A sociedade cobra..."
Essa é uma frase que me irrita profundamente. Vira e mexe eu a ouço, sobretudo pronunciada por mulheres. "A sociedade cobra que a mulher, hoje em dia, desempenhe vários papéis..." "A sociedade cobra que tenhamos filhos." Evidente que vivemos em sociedade e todos nós temos de dar nossa contribuição. O cidadão trabalha pra ganhar seu sustento, paga contas e impostos e tudo o mais que já sabemos muito bem. E ponto final. O que a sociedade tem de dar palpite na vida particular dos indivíduos? Eu não permito isso, de absolutamente ninguém. Que direito alguém acha que tem de dizer se devo ou não me casar, se devo ou não ter filhos, se devo ou não ser hétero ou homo? Ou seja lá que droga for? A sociedade não paga minhas contas, não enxuga minhas lágrimas, não me dá um tapinha de incentivo nas costas.
Não é possível que gente adulta ainda seja tão carente a ponto de precisar da aprovação de um porrilhão de pessoas pra se sentir bem. Por isso tateia às cegas, fazendo muitas coisas que não queria e deixando de lado outro tanto que adoraria fazer. Essas pessoas levam em consideração as opiniões e os desejos de pais, amigos, vizinhos e até de gente estranha, em detrimento da própria vontade. Altruísmo? De jeito nenhum. Fraqueza, falta de reflexão. Isso é falsa bondade, é hipocrisia. Se vc quer contribuir para o bem-estar de alguém, comece a proporcionar bem-estar a você mesmo; estando feliz vc não irá jogar nas costas dos outros todo o peso de sua cobrança. Sim, amigo, porque a cobrança sempre vem. Todo o mundo faz algo por algo. Veja o caso dos pais. Todos, cem por cento deles, dizem que querem que seus filhos sejam felizes. Agora, pergunte a eles: "E se seu filho só puder ser feliz sendo homossexual?" "Vire essa boca pra lá!", a grande maioria irá bradar. Ué! Mas não era pro pequerrucho ser feliz? "Claro. Contanto que..."
Por isso é que eu faço e ando pra o que pensam de mim, e sobretudo pra o que se espera de mim. Trabalho honestamente, pago meus impostos (muitos deles sob protesto, mas pago), contribuo o mais que posso para o meio ambiente. Agora, aquele que se achar no direito de me fazer perguntas de foro íntimo, de se intrometer naquilo que só diz respeito a mim, correrá o sério risco de ser colocado em seu devido lugar. Um curto e sonoro "Vá cuidar da sua vida", no mínimo.
"A sociedade cobra" de quem não tem coragem de não admitir essa cobrança. Seus amigos não entendem sua postura? Pois está na hora de você trocar de amigos.
Não é possível que gente adulta ainda seja tão carente a ponto de precisar da aprovação de um porrilhão de pessoas pra se sentir bem. Por isso tateia às cegas, fazendo muitas coisas que não queria e deixando de lado outro tanto que adoraria fazer. Essas pessoas levam em consideração as opiniões e os desejos de pais, amigos, vizinhos e até de gente estranha, em detrimento da própria vontade. Altruísmo? De jeito nenhum. Fraqueza, falta de reflexão. Isso é falsa bondade, é hipocrisia. Se vc quer contribuir para o bem-estar de alguém, comece a proporcionar bem-estar a você mesmo; estando feliz vc não irá jogar nas costas dos outros todo o peso de sua cobrança. Sim, amigo, porque a cobrança sempre vem. Todo o mundo faz algo por algo. Veja o caso dos pais. Todos, cem por cento deles, dizem que querem que seus filhos sejam felizes. Agora, pergunte a eles: "E se seu filho só puder ser feliz sendo homossexual?" "Vire essa boca pra lá!", a grande maioria irá bradar. Ué! Mas não era pro pequerrucho ser feliz? "Claro. Contanto que..."
Por isso é que eu faço e ando pra o que pensam de mim, e sobretudo pra o que se espera de mim. Trabalho honestamente, pago meus impostos (muitos deles sob protesto, mas pago), contribuo o mais que posso para o meio ambiente. Agora, aquele que se achar no direito de me fazer perguntas de foro íntimo, de se intrometer naquilo que só diz respeito a mim, correrá o sério risco de ser colocado em seu devido lugar. Um curto e sonoro "Vá cuidar da sua vida", no mínimo.
"A sociedade cobra" de quem não tem coragem de não admitir essa cobrança. Seus amigos não entendem sua postura? Pois está na hora de você trocar de amigos.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
UMA CRIATURA
Sei de uma criatura antiga e formidável
Que a si mesma devora os membros e as entranhas
Com a sofreguidão da fome insaciável.
Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga à maneira de abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.
Traz impresso na fronte o obscuro despotismo.
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.
Friamente contempla o desespero e o gozo.
Gosta do colobri como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.
Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.
Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo,
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.
Pois essa criatura está em toda a obra:
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
E é nesse destruir que as suas forças dobra.
Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.
Machado de Assis
Que a si mesma devora os membros e as entranhas
Com a sofreguidão da fome insaciável.
Habita juntamente os vales e as montanhas;
E no mar, que se rasga à maneira de abismo,
Espreguiça-se toda em convulsões estranhas.
Traz impresso na fronte o obscuro despotismo.
Cada olhar que despede, acerbo e mavioso,
Parece uma expansão de amor e de egoísmo.
Friamente contempla o desespero e o gozo.
Gosta do colobri como gosta do verme,
E cinge ao coração o belo e o monstruoso.
Para ela o chacal é, como a rola, inerme;
E caminha na terra imperturbável, como
Pelo vasto areal um vasto paquiderme.
Na árvore que rebenta o seu primeiro gomo,
Vem a folha, que lento e lento se desdobra,
Depois a flor, depois o suspirado pomo.
Pois essa criatura está em toda a obra:
Cresta o seio da flor e corrompe-lhe o fruto;
E é nesse destruir que as suas forças dobra.
Ama de igual amor o poluto e o impoluto;
Começa e recomeça uma perpétua lida,
E sorrindo obedece ao divino estatuto.
Tu dirás que é a Morte; eu direi que é a Vida.
Machado de Assis
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